No mundo corporativo, dirigentes e executivos são frequentemente colocados à prova diante de desafios e decisões que podem impactar não só os resultados da empresa que comandam, mas também a vida de muitas pessoas que estão relacionadas àquela marca de alguma forma. No setor de saúde suplementar, isso se torna uma verdade ainda mais severa, à medida que lidamos diariamente com o exercício de cuidar da saúde das pessoas.

Em 2015, nossa capacidade de gerir uma estrutura corresponsável pelo bem-estar de cerca de um milhão de vidas, pela valorização do trabalho de 5.500 médicos e por oportunidades para mais de 3 mil colaboradores foi levada ao limite. Em meio a um país envolto em uma crise política e econômica de grandes proporções, o que traz reflexos diretos para a gestão de uma operadora de saúde, e de um ano de 2014 com o primeiro resultado negativo de nossa história recente, fomos verdadeiramente testados no âmbito da gestão.

Neste sentido, a migração do Relatório de Sustentabilidade integralmente para uma plataforma digital retrata de maneira simbólica todo o esforço que foi realizado na organização em busca de conseguir aliar o padrão de qualidade pelo qual a Unimed-Rio é reconhecida no mercado com a tônica de otimização de custos e eficiência que tomou conta de todo o cenário empresarial.

Para nós, uma cooperativa de médicos, sem qualquer investidor parceiro, buscar soluções para equilibrar a equação “atendimento de qualidade x gestão do custo assistencial” foi um objetivo perseguido durante todo o ano e nos orgulhamos de termos encerrado o exercício com uma sinalização clara de recuperação.
Vivemos períodos de muita turbulência, convivendo com a pressão de uma inflação médica muito elevada, com a asfixia de rede diante de um mercado cada vez mais concentrado, pressões regulatórias e toda sorte causada pelo desequilíbrio que a crise nacional trouxe para famílias e mercado.

À instabilidade econômica, soma-se um ambiente político interno também inédito em nossa história, conturbado pela ação de grupos de sócios que colocam interesses pessoais acima dos coletivos e, por consequência, provocam atrasos na busca pelo reequilíbrio.

Desta forma, entregar à sociedade um relato fiel e de acordo com as premissas preconizadas pela Global Reporting Initiative (GRI), como fazemos desde 2007, é uma tarefa ainda mais complexa, mas da qual não nos furtamos de cumprir. Neste site, você, sócio, cliente, investidor, parceiro ou admirador da marca Unimed-Rio, poderá entender todas as dificuldades que passamos e como buscamos superá-las sem perder de horizonte nosso jeito humano e diferenciado de cuidar das pessoas.
Acertamos muito. Talvez tenhamos errado mais do que deveríamos. Mas aproveitamos cada ponto de crítica para reavaliar nossas ações. Ao fim, um resultado operacional 161% melhor do que o de 2014, ainda que em mares agitados. Mas acima de tudo, com a certeza de ter recolocado a cooperativa no caminho certo.

Dr. Celso Corrêa de Barros – Presidente

A intensificação da crise política e econômica que assola o país traz efeitos diretos e significativos para o mercado de saúde suplementar, desde seu desenvolvimento como sistema até o impacto no controle dos custos assistenciais. O ano de 2015 foi o primeiro desde os anos 2000, quando a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) passou a regulamentar o setor, que apresentou queda da base geral de beneficiários de planos médicos, com uma variação negativa de 1,5%, representando cerca de 766 mil vínculos a menos. Todos os tipos de contratação sofreram reduções. Os coletivos totais decresceram 1,3%, os coletivos empresariais 1,2%, os coletivos por adesão 1,9% e os individuais 1,6%. Neste contexto, a taxa de cobertura nacional de planos de saúde de assistência médica é de 25,6% da população.

Um dos principais motivadores desta queda é o aumento do índice de desemprego, que fechou 2015 com média de 8,5%, a maior já medida pela Pnad Contínua (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios), iniciada em 2012. Este resultado ficou 1,7 ponto percentual acima da média de 2014 (6,8%), a piora mais acelerada registrada nesses quatro anos de série histórica. No último trimestre do ano de 2015, o rendimento médio real da população ocupada foi de R$ 1.863,00, medido pela Pnad Contínua trimestral/IBGE, queda de 0,2% no acumulado em 12 meses. O desemprego tem uma grande influência na evolução da carteira dos planos de saúde, uma vez que gera um movimento chamado de “movimentação negativa”, quando o número de pessoas que deixa o plano é maior do que o que entra sem que a operadora perca contratos.
O dólar também teve grande oscilação em 2015, subindo 48,49% sobre o real, o maior avanço anual em 13 anos. Essa elevação traz impactos para o setor de saúde suplementar e o resultado das operadoras, uma vez que boa parte dos custos assistenciais é vinculado à moeda americana.

Por fim, outro fator que tem reflexos diretos para as operadoras de planos de saúde é a inflação médica, que por mais um ano foi superior à inflação geral. O IPCA de 2015 foi de 10,67%, enquanto o índice para planos de saúde foi de 12,20%. Outra análise sob esta ótica, feita anualmente pelo Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS), é a variação dos custos médico-hospitalares, que foi de 17,1% para o período de 12 meses encerrado em Junho de 2015, última medição até então, mantendo-se superior à variação da inflação geral (IPCA) que foi de 8,9% para o mesmo período. No 1º semestre de 2015 o aumento da VCMH foi de 1,8 ponto percentual: de 15,3% em janeiro de 2015 para 17,1% em junho de 2015.

Como referência, a inflação médica bruta em 2015 do Brasil foi bastante superior a países cujos sistema de saúde são estudados no mundo. O país teve um índice de 18,1%, frente 9% do Estados Unidos, 9,3% do México, 7,8% do Reino Unido e 6% da França e do Chile.

A soma de todos estes fatores reduziu a lucratividade do setor e ampliou a concentração de mercado, em função da saída de algumas operadoras de mercado. Dentre elas, uma de grande relevância para a Unimed-Rio foi a liquidação da Unimed Paulistana, situação que trouxe dificuldades de atendimento para cerca de 40 mil clientes em alguns períodos de 2015.

Fontes:

Relatório Aon Hewitt 2015 – Global Medical Trend Rate Survey Report
ANS: Caderno de Informações da Saúde Suplementar 2015
IESS: Relatório “Variação de Custos Médico-Hospitalares”
IESS: Relatório “Saúde Suplementar em Números”
IESS: Relatório “Conjuntura Saúde Suplementar”
IESS: Relatório “VCMH/IESS”